domingo, setembro 25, 2005
Abandonar o ninho
"Sinto-me a morrer
incapaz de sobreviver
Mas tenho de sair
terei de partir"
Fiquei deveras surpreendida porque ele já andava por fora de casa devido a seus estudos e o pensava com maturidade. Compreendi que nem todas as famílias são iguais: numas se enfatiza a dependência e noutras a independênci psicológicas.
No caso de meu amigo era apenas uma viagem a que todos gostaríamos de ir.
Porquê este comportamento?
Para o meu amigo a saída estava dar origem a uma crise. O sentimento de posse e de sacrifício constituia o lubrificante da máquina familiar. Se a atmosfera fosse psicologicamente sadia...Este culpa e medo de sair de casa por receio de causarem desapontamento em seus pais, nem que seja por poucos dias, pode dar origem a um casamento em que a relação é apenas a de paternidade, em vez de ser uma relação que dois indivíduos que partilham em igualdade de condições. Tem de haver uma independência emocional para evitar problemas que levam muitas vezes ao hábito e ainda ao divórcio da vida plena num casal.
Que família é a nossa? Aquela em que o movimento no sentido de alguém ser uma pessoa é visto como coisa normal e não um desafio à autoridade de alguém? Exigir de um filho a sujeição eterna: porque se deu curso, porque se trabalha para ele ter curso...e tanta frustação passada aos filhos... E aquele filho vai sentir que deve estar ali por obrigação. Uma coisa é querer permancer junto outra, péssima, é "TER A OBRIGAÇÂO DE".
Na família bem resolvida existe o respeito à privacidade em lugar da exigência de se partilhar tudo...até a carta íntima de namorada/o.
Se na nossa família a mulher tem vida própria, além de ser mãe e esposa, ela estará a mostrar aos filhos como viver vida útil, em vez de viver em função de vida deles. Os pais sentem que sua própria felicidade é de importância vital porque sem ela não haverá harmonia em família. Mas se aquela mulher é dominadora? Se acha e torna indispensável na vida de filhos nunca o deixando só a resolver seus pequenos problemas...como se sairá aquele filho na sua vida?Por vezes sucede que devido a seu casamento não a ter realizado, mais ela é escrava e dá o exemplo de que ser escrava é o natural na família.
A família traumatizante faz manipulação subtil, através de culpas ou ameaças , para manter os filhos dependentes e responsáveis perante seus pais.
Terminarei com uma definição de mãe, de Dorothy Canfield Fisher, no livro Her Son's wife: "Mãe não é uma pessoa em que se apoiar, mas uma pessoa que torna o apio desnecessário".
Espero que as amigas que lêem este pequeno texto sejam destas mães em que o abandono do lar é um facto natural ao invés daquelas que comunicam um trauma que perseguirá seus filhos e o relacionamento como um fantasma para sempre. O perigo que se corre é que em vez de estarmos a dar as hipóteses todas a nossos filhos os estamos a empurrar para um prolongamento deste nosso relacionamento ao casar: substituir por outro relacionamento de dependência.
Do livro "Seus pontos fracos" de Dr. Wayne W. Dyer
terça-feira, setembro 13, 2005
UNIDOS NA MORTE
Despido dos medos e das tuas verdades
Já que a morte plantaste em teu jardim
Uma corda uma garganta e um doido
Gritando: meu irmão já morreu. É morto
Uma rua cheia de lama mesmo ruim
Deixas cinco viuvas inconsoláveis
Sabendo que apenas uma vai ao velório
Aquela que sentira tua morte anunciada
E que possuías várias vidas descartáveis
Jaz exangue, cansado, frio sem ninguém
Te faltam os paramentos sonhados dourados
Nenhuma das belas te quer amortalhar
e só uma apenas te amou sem desdém
vinho doce daquele que nunca usaras
recordando as bodas que não tiveras
Lembrando as nunca tidas alegrias
de um sémen gerador de filhos
Um irmão que grita: ele morreu
E rindo com esgar de bêbados
O braço de ferro ela venceu
Tinha o filho onde sempre quis
Ficou ali esquecida mais uma vez
Olhava o corpo tão franzino
A quem nunca recusara sua nudez
Pois o sabia poeta e terno menino
Foram dois, os corpos encontrados
Rostos serenos sem traço de dor
um sobre o outro abraçados
Como de um adormecer depois do amor
autor: MNB
quinta-feira, setembro 08, 2005
Rosereiameu

Rosereiameu
O mar trouxe à terra
Uma areia fina
Poalha de leve espuma
Rendilhado de sonho
A frescura do salgado
Como mosto de lábios
Em ondas de enleio
Em abraços apertados
chamando para a morte
Romeu em seu barco
Casquinha de noz
Com medo da vaga
Cansado dos remos
No coração nada tendo
o sangue saindo sem norte
Era o canto de uma sereia
Foi, mergulhou e nas algas
o receio acabou
porque ali se amaram
e o mar aplainou.
MNB, Confuso e baralhado